Milongas & Mirongas - 20 - Ai, que loucura!

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   VELHOS RICOS

Abílio Diniz revelou, despudoradamente, que tem acesso ilimitado ao celular de Maharishi Cruz. O auxiliar do técnico, que viaja ao lado do presidente, sabe quem manda. O pai de Pedro Paulo não tem cargo na diretoria, mas está no grupo dos que dominam o São Paulo. Em algumas instituições, dizem que a maçonaria dá as cartas nos bastidores. No Morumbi, este papel é da geriatria, desde que abastada. Tal como as novas estrelas femininas da Band, estes senhores endinheirados já não fazem questão de atuar discretamente. O treinador que não ouse contrariá-los - nem a eles, nem ao protegido. É isso, ou vai ao Paredão.

Não é novidade o São Paulo ser dominado por septuagenários. Desde que me conheço por gente, falam dos velhinhos do conselho. E ainda são os mesmos. Além de vitalícios, temo que sejam imortais - especialmente os que defendem a volta de Noronha para dar consistência defensiva. Riqueza também sempre pareceu vir no pacote. O inédito da história é terem resolvido escancarar que, em vez de paixão, o tricampeão mundial virou brinquedo de rico. Tudo com a anuência de Juvenal, ele também do clã (enriqueceu com seu soldo de investigador de polícia). O dia está boring? Chamam Milton Cruz no celular para contar que descobriram a verdadeira posição de Willian José. O guru responde positivamente, embora nunca tenha imaginado que o centroavante de roça seria o lateral da Copa de 2014. Sua principal função é essa: entreter os safenados. 

Seria leviano dizer que os felizes fidalgos não pensam no futuro. Estão até preparando uma nova geração para assumir o clube mais adiante, por volta de 2040. Nas cadeiras cativas e tribunas, jovens ricos foram escolhidos para serem lapidados em rituais cuidadosamente desenvolvidos. O objetivo é incentivar a humildade e a subserviência aos mestres. Quanto maior o grau de deslumbramento, mais próximo do ídolo máximo. Rogério Ceni? Tá frio, Pancho! Laudo Natel é a medida de todas as coisas nas mansões e coberturas tricolores. Chegar a conversar com ele é o máximo do chique. Mas, para isso, são necessárias décadas de ensinamentos. Juvenal Juvêncio teve esta paciência jurássica e acabou abençoado pelo apoio a sua reeleição. Natel falou e o conselho da tosse consentiu. Enquanto o amigo de golpistas respirar, será assim.  

Antes que me chamem de ranzinza, digo que até vejo coisas positivas, porém mal aproveitadas. Se uma emissora consegue segurar as férias do CQC com um bando de peruas em Buenos Aires, o departamento de marketing deveria promover o mesmo com seus astros senis. Mesmo que a TV dê de ombros, a atração poderia ser exibida em vídeos no site oficial. Imagino os anunciantes se debatendo para aparecer em meio aos grandes debates sobre o maior São Paulo de todos os tempos: o de Sastre ou o de Bella Lugosi. Fabricantes de celular prometeriam fortunas para ver suas marcas expostas, enquanto Abílio Diniz e Ives Gandra sugerem a volta triunfal do WM (não é um carro). Eu torceria imensamente pela Claro. As chances de a ligação funcionar dentro do Morumbi são as mesmas de Fernandinho fazer uma jogada inteligente. Tu-tu-tu...

Há uns vinte anos, fui obrigado a ler sobre Guy de Rotschild. Em meio a diversas coisas que não me interessaram, uma se salvou: o trecho em que o empresário diz que se aposentou quando percebeu que já não conseguia acompanhar as novidades. Admitir isso não é sucumbir ao preconceito. É respeitar o que a vida oferece e aproveitar o que resta de outra forma, sem manchar uma trajetória caindo no ridículo. Os colegas tricolores devem ter lido a mesma passagem. Só entenderam a primeira parte.